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Os sertões de Euclides da Cunha

O livro “Os sertões” de Euclides da Cunha, é uma obra considerada marcante que retrata a realidade do Brasil da época, principalmente as memórias da guerra de canudos, fato esse que aconteceu no interior da Bahia. O próprio autor da obra, Euclides, mandado como correspondente da Folha de S. Paulo, vivenciou esse cenário no ano de 1897, cenário esse palco do conflito da guerra, o embate era noticiado da seguinte forma: “embate entre sertanejos “selvagens”, fanáticos religiosos e antirrepublicanos.” Depois de vivenciar toda essa realidade, Euclides começou a escrever pedaços de tudo aquilo que presenciou, criando a obra, obra essa publicada pela primeira vez no ano de 1902.

O livro é considerado grandioso e peculiar, de uma narrativa literária geográfica, formando um romance histórico, misturado com um misto de reportagem de guerra e documental-historico, uma obra que ajuda entender o Brasil de ontem e o Brasil que vivenciamos hoje, focado no homem, na terra e a luta eminente, e a maior denuncia dos maiores massacres já ocorridos no Brasil.

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RESUMO DA OBRA

Os sertões de Euclides da Cunha - Capa do livro (1902)

Os sertões de Euclides da Cunha – Capa do livro (1902)

O livro pode ser divido em 3 Partes: A terra, O homem e a Luta, é uma obra considerada extensa e bem detalhada pelo autor, contando com mais de 630 paginas.

Na parte inicial do livro, ou seja, na primeira parte, A terra, que é dividida em 5 capítulos, é um estudo geográfico,  Euclides descreve com grandes detalhes todo cenário que foi visto durante sua permanência nessa região, exemplo o sertão brasileiro, enaltecendo as paisagens como a flora, os relevos, e o clima bastante árido, ou seja, de temperatura quente,bem desértico, abordando as caracteristicas dos habitantes que ali vivia, suas condições de vida, o sertanejo, o jagunço,  cenário de grande exploração do homem por diversos anos, ou seja, uma região que estava totalmente separada geograficamente e temporalmente das outras regiões do pais.

Já na segunda parte do livro, O homem, parte essa que retrata o estudo antropológico e sociológico do homem, o autor já começa a entender e descrever as características do sertanejo, jagunço e do cangaceiro, mostra a relação dessas pessoas com o meio em que vivem como comportamento, religiosidade, costumes do cotidiano, pensamentos, dando atenção principalmente para o líder de Canudos, chamado de Antonio Conselheiro, buscando entender seus principais objetivos. No momento dessa segunda parte, Euclides também aborda temáticas importantes para a sua obra, como o determinismo racial do historiador Frances Hippolyte Taine (1828-1893), essa parte do livro também é dividido em 5 capítulos  extensos.

Na terceira parte da obra, A Luta, retrata as quatro expedições a canudos realizado pelo exercito nacional, retratando um cenário que só podia ser relatado através da experiência realizada por Euclides, realidade essa da fome, miséria, da peste, violências e a loucura da guerra, entre os sertanejos, considerados vilões pelo exercito nacional do Brasil, comandados para acabar com o Arraial de Canudos, que contava com aproximadamente 20 mil habitantes. Essa parte do livro é de suma importância, pois relata a guerra que devastou grande parte da população nordestina, estudo esse considerado historiográfico, é a maior parte de toda obra, dividido em 34 capítulos.

Infelizmente a guerra não teve um final feliz, Arraial de Canudos foi destruído.

ANALISE DA OBRA OS SERTÕES

O autor durante todo percurso da sua obra retrata o absurdo que foi o então massacre que começou por um motivo considerado até mesmo “bobo” por parte do escritor, tudo pelo fato que Antonio Conselheiro, apenas reclamou do estoque de madeira que não foi entregue para os trabalhadores, e foi por esse dilema, que surgiu um conflito maior e até mesmo uma paranóia nacional que os “monarquistas” de canudos tinham apoio de caráter externo.

E no final acabou sendo uns dos maiores massacres da historia já vista, todos no cenário envolvidos na confusão estavam errados, mas é claro que a corda arrebentou para o lado mais fraco

 Sertões é considerado o primeiro livro de reportagem brasileiro, Euclides vivenciou por 2 meses diversas historias e acontecimentos, e criou essa obra fantástica, não podemos deixar de mencionar que o mesmo seguia pensamentos filosóficos deterministas, ou seja, o meio a raça determinam o individuo,  e positivista, ideias de moral e progresso, esses pensamentos influenciou e muito em toda descrição feita sobre os habitantes e a relação com a terra.

Os sertões é considerado uma obra a frente do seu tempo, obra essa que denunciou o exercito nacional e a republica.

TRECHOS DA OBRA OS SERTÕES

“A TERRA”

´”As condições estruturais da terra lá se vincularam à violência máxima dos agentes exteriores para o desenho de relevos estupendos. O regímen torrencial dos climas excessivos, sobrevindo, de súbito, depois das insolações demoradas, e embatendo naqueles pendores, expôs há muito, arrebatando-lhes para longe todos os elementos degradados, as séries mais antigas daqueles últimos rebentos das montanhas: todas as variedades cristalinas, e os quartzitos ásperos, e as filades e calcários, revezando-se ou entrelaçando-se, repontando duramente a cada passo, mal cobertos por uma flora tolhiça — dispondo-se em cenários em que ressalta predominante, o aspecto atormentado das paisagens.”

“O HOMEM”

“II. Gênese dos jagunços; colaterais prováveis dos paulistas. Função histórica do rio S. Francisco. O vaqueiro, mediador entre o bandeirante e o padre. Fundações jesuíticas na Bahia. Um parêntesis irritante. Causas favoráveis à formação mestiça dos sertões, distinguindo-a dos cruzamentos no litoral. Uma raça forte.

 III. O sertanejo. Tipos díspares: o jagunço e o gaúcho. Os vaqueiros. Servidão inconsciente; vida primitiva. A vaquejada e a arribada. Tradições. A seca. Insulamento no deserto. Religião mestiça: seus fatores históricos. Caráter variável da religiosidade sertanejo: a Pedra Bonita e Monte Santo. As missões atuais.

 IV. Antônio Conselheiro, documento vivo de atavismo. Um gnóstico bronco. Grande homem pelo avesso, representante natural do meio em que nasceu. Antecedentes de família: os Maciéis. Uma vida bem auspiciada. Primeiros reveses; e a queda. Como se faz um monstro. Peregrinações e martírios. Lendas. As prédicas. Preceitos de montanista. Profecias. Um heresiarca do século 2 em plena idade moderna. Tentativa de reação legal. Hégira para o sertão.”

“A LUTA”

“Causas próximas da luta Determinou-a incidente desvalioso. Antônio Conselheiro adquirira em Juazeiro certa quantidade de madeiras, que não podiam fornecer-lhe as caatingas paupérrimas de Canudos. Contratara o negócio com um dos representantes da autoridade daquela cidade. Mas ao terminar o prazo ajustado para o recebimento do material, que se aplicaria no remate da igreja nova, não lho entregaram. Tudo denuncia que o distrato foi adrede feito, visando o rompimento anelado.”

“A multidão aproximou-se, tudo o indica, até beirar a linha de sentinelas avançadas. E despertou-as. Os vedetas estremunhando, surpresos, dispararam, à toa, as carabinas e refluíram precipitadamente para a praça que ficava à retaguarda, deixando em poder dos agressores um companheiro, espostejado a faca. Foi, então, o alarma: correndo estonteadamente pelo largo e pelas ruas; saindo, seminus, pelas portas; saltando pelas janelas; vestindo-se e armando-se às carreiras e às encontroadas… Não formaram. Mal se distendeu às pressas, dirigida por um sargento, incorreta linha de atiradores. Porque os jagunços lá chegaram logo, de envolta com os fugitivos. E o recontro empenhou-se brutalmente, braço a braço, adversários enleados entre disparos de garruchas e revólveres, pancadas de cacetes e coronhas, embates de facões e sabres — adiante, sobre a frágil linha de defesa. Esta cedeu logo. E a turba fanatizada, entre vivas ao Bom Jesus e ao Conselheiro, e silvos estridentes de apitos de taquara, desdobrada, ondulante, a bandeira do Divino, erguidos para os ares os santos e as armas, seguindo empós o curiboca audaz que levava meio inclinada em aríete a grande cruz de madeira — atravessou o largo arrebatadamente…”