Inconfidência Mineira foi um movimento separatista malsucedido no Brasil em 1789. Foi o resultado de uma confluência de causas externas e internas no que era então uma colônia portuguesa. A inspiração externa foi a independência de treze colônias britânicas na América do Norte após a Guerra Revolucionária Americana, um desenvolvimento que impressionou a elite intelectual, particularmente a capitania de Minas Gerais. A principal causa interna da conspiração foi o declínio da mineração de ouro naquela capitania. Como o ouro tornou-se menos abundante, os garimpeiros da região enfrentaram dificuldades crescentes no cumprimento das obrigações tributárias para com a coroa, e o imposto sobre o ouro era de um quinto. Quando a capitania não podia satisfazer a demanda real de ouro, estava sobrecarregada com um imposto adicional sobre o ouro, chamado derrama.
Conspiradores que buscavam independência de Portugal planejavam se rebelar no dia em que a derrama foi instituída. No entanto, os conspiradores não tinham planos bem formados nem um líder geral. Alguns dos conspiradores eram republicanos, outros eram monarquistas. Alguns favoreceram a abolição da escravatura, enquanto outros julgaram a abolição impraticável na época. Os conspiradores apresentaram algumas ideias econômicas e sociais: a promoção da produção de algodão, a exploração de reservas de ferro e salitre, uma proposta para incentivar as mães a terem muitos filhos e a criação de uma milícia de cidadãos.
A conspiração atraiu um grande número de militares, sacerdotes e intelectuais, bem como os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga (1744-1807). Entre os participantes mais conhecidos estavam Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como “Tiradentes”; José Álvares Maciel, filósofo e estudante de química; e o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade (1756–1792) do regimento de dragões. Tiradentes, que veio do regimento de Andrade, era o propagandista mais entusiasta do movimento de independência.
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A Inconfidência foi inspirada nos ideais dos filósofos liberais franceses da Era do Iluminismo e na bem-sucedida Revolução Americana de 1776. Os conspiradores em grande parte pertenciam à classe alta branca de Minas Gerais, rica em minerais. Muitos estudaram na Europa, especialmente na Universidade de Coimbra, e alguns tiveram grandes dívidas com o governo colonial. No contexto do declínio da produção de ouro, a intenção do governo português de impor o pagamento obrigatório de todas as dívidas (a derrama) foi a causa principal por trás da conspiração. Os conspiradores queriam criar uma república na qual o líder seria escolhido através de eleições democráticas. A capital seria São João do Rei e Ouro Preto se tornaria uma cidade universitária. A estrutura da sociedade, incluindo o direito à propriedade e a propriedade dos escravos, seria mantida intacta. Eventualmente, três participantes do movimento de independência revelaram os planos dos conspiradores para o governo, e os rebeldes foram presos em 1789. Entre os movimentos estavam o advogado Alvarenga Peixoto, os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, o padre José da Silva. de Oliveira Rolim, e os alferes Joaquim José da Silva Xavier (vulgo “Tiradentes”). Depois de Joaquim Silvério dos Reis (1756–1792), membro da conspiração, ter informado sobre o movimento antes que pudesse acontecer, Peixoto foi capturado, preso e enviado para o exílio na cidade de Ambaca, em Angola portuguesa, outra colónia de o Império Português, onde permaneceu até o final de sua vida.
A fracassada conspiração mineira de 1789 envolveu algumas das principais figuras da capitania: coletores de impostos, sacerdotes, oficiais militares, juízes, oficiais do governo e donos de minas e fazendeiros. Alguns nasceram em Portugal, vários estudaram cedo com os jesuítas e depois estudaram em Coimbra, um número escreveu poesia que ainda é lida e estudada. Mas o que eles tinham mais em comum eram os problemas financeiros causados pelas políticas da coroa que os obrigavam a pagar suas dívidas, ou que os eliminavam do lucrativo comércio de ouro e contrabando de diamantes. Eles argumentaram que o Brasil tinha tudo que precisava para sobreviver e prosperar e que Portugal era um parasita. Eles se comprometeram a levantar restrições à mineração; explorar minério de ferro; montar fábricas; criar uma universidade, uma milícia de cidadãos e um Parlamento; perdoar dívidas ao tesouro real; escravos livres nascidos no Brasil; e formar uma união com São Paulo e Rio de Janeiro semelhante à dos Estados Unidos.
A história da conspiração mineira é cheia de drama pesado. Revelação da conspiração transformou irmãos, amigos, clientes e patronos uns contra os outros em uma luta imprópria para escapar da punição. Em certo sentido, o caso prenunciava a natureza dos futuros movimentos revolucionários brasileiros, na medida em que era uma conspiração de oligarcas que buscavam vantagem própria, ao mesmo tempo em que pretendiam agir em nome do povo. Sua execução em 1792 no Rio de Janeiro poderia muito bem ter sido esquecida se os republicanos do século XIX não o tivessem abraçado como um contrapeso simbólico a Dom Pedro I, que declarou a independência brasileira de Portugal em 1822. Mais tarde, com o estabelecimento da república em Portugal. 1889, cada cidade e cidade do Brasil construiu uma praça Tiradentes, e o dia de sua execução, 21 de abril, tornou-se um feriado nacional bem comemorado. No entanto, como a Conspiração de Minas foi mais marcada pela desonestidade do que pela nobreza e clareza, seu valor como símbolo nacional exigia interpretação e apresentação seletivas.
Portugal resolveu observar os brasileiros com mais cuidado e reagiu com veemência a um plano inexistente mas suspeito no Rio de Janeiro em 1794, e a um verdadeiro mulato na Bahia em 1798. Enquanto isso, a Revolução Francesa, a resultante rebelião de escravos no Haiti, e o medo de revoltas semelhantes no Brasil convenceu as elites brasileiras de que o sonho de uma revolução conservadora ao estilo dos Estados Unidos que deixasse a estrutura socioeconômica baseada em escravos intacta e em suas mãos era impossível. A coroa separou os moradores de Minas Gerais dos revigorados produtores de açúcar costeiros por meio de políticas que colocam seus interesses em desacordo. Lisboa desviou o nacionalismo brasileiro com maior envolvimento imperial.
Rescaldo
Os processos judiciais contra os conspiradores duraram de 1789 a 1792. O tenente-coronel Freire de Andrade, Tiradentes, José Álvares Maciel e outros oito foram condenados à forca. Mais sete foram condenados a banimento perpétuo na África, os demais foram absolvidos. Após o julgamento, a rainha Maria I comutou as sentenças da pena capital para o banimento perpétuo de todos, exceto daquelas cujas atividades envolviam circunstâncias agravadas. Esse foi o caso de Tiradentes, que assumiu total responsabilidade pelo movimento conspiratório e foi preso no Rio de Janeiro, onde foi enforcado em 21 de abril de 1792. Depois, seu corpo foi rasgado em pedaços, que foram enviados para Vila Rica na capitania. Minas Gerais, a ser exibido nos lugares onde ele havia propagado suas ideias revolucionárias. O aniversário de sua morte é comemorado como feriado nacional no Brasil.
Em 1948 os eventos foram retratados em um filme chamado Inconfidência Mineira, dirigido por Carmen Santos.
Em 1963, Minas Gerais incorporou como sua bandeira estadual aquela projetada pela Inconfidência, com um triângulo equilátero inspirado na Santíssima Trindade – ainda que supostamente os inconfidentes desejassem um triângulo verde, enquanto a bandeira mineira usasse um vermelho – e um lema latino tomado das Eclogues de Vergil.